Me perguntaram de você, suspirei. Não sei. Baixei os olhos diante da realidade fria, encarei a realidade.. eu não te conhecia mais, ainda que tivesse milhões de memórias ativas sobre você, eu já não te encaixava mais nos dias de hoje. Como um sapato velho, que foi moda por muito tempo, foi confortável, mas agora machuca cruelmente o calcanhar e não cabe mais aos novos ambientes...
Olhei sua foto, eu já não te reconhecia mais.. não mais. Não via mais em seu olhar o que antes era capaz de ver, fechei meus olhos por alguns segundos e tentei me conectar a você: nada!
A realidade é que hoje, você é um estranho.. alguém que se sentou comigo pelos bancos da vida e desembarcou em alguma estação. Meu Deus, eu te conhecia. Juro.! Ou pensava conhecer.. talvez nunca tenha reconhecido de verdade.
A realidade se abriu diante de mim, e aquilo me detonou por dentro. Doeu a decepção de ter confiado tanto em alguém e ser surpreendido com algo jamais esperado, doeu o tempo ter passado a verdade é que talvez, o cara por quem eu fui apaixonada, nunca tenha existido. Doeu por não nos encaixarmos mais, nossas vidas parecem ter caminhados em destinos opostos e nos tornamos pessoas tão diferentes a pontos quase insuportáveis.
Eu sentia sua falta, eu fazia absoluta questão de manter um afeto por você, era quase que uma obrigação. Não esquecer. Mas, as vezes, se permitir esquecer pode ser a melhor saída.
Não senti culpa, em momento nenhum.. senti raiva, raiva de você por cometer erros tão estúpidos que eu jamais permiti que "você" os cometesse, mas cometeu. Infelizmente, não era a pessoa que eu julgava ser, ou nunca foi ou não é mais. Senti raiva por me manter ligada a quem hoje não se encaixa. A dor veio por ter alguém em sua vida e ao mesmo tempo não ter.
Por isso, talvez seja a hora da despedida. De pormos um ponto final nisso tudo. Pode descer na próxima estação, não tem nada não. Eu aceno pra você da janela, sigo com a minha vida e você com a sua. Já fizemos isso antes, lembra? Dessa vez vai doer bem menos, porque não estaremos deixando uma parte de nós e sim, recuperando essa parte.
Nos encontraremos como velhos conhecidos, tomaremos um café e falaremos da vida, do casamento, dos filhos, do trabalho... olharemos o relógio e puxa.. já se foram longos 30 minutos.. hora de ir.
Por isso, deixo aqui minha despedida antes que eu termine de matar qualquer resquício de boa memória sua, o carinho se foi, mas ainda quero manter o respeito. Vou saltar do trem da sua vida nessa estação, vou levar toda a minha bagagem comigo. Arrume a sua, você também desce aqui. Daí em diante é cada um por sí.
Pode ir, não olhe para trás, pode me abraçar.. tudo bem.! Vai ser melhor assim, antes que nos decepcionemos ainda mais um com o outro.
Desejo que encontre novas pessoas, que encha o trem da sua vida com muitas outras vidas. Sabe a minha poltrona? Tirei dela o meu bottom e passei um produto de limpeza.. nada meu ficou lá. Pode deixar que outra pessoa se sente, não tem problema algum. Limpe sua poltrona também, não deixe nada que for seu.. outro alguém também vai se sentar lá..
Já havíamos nos perdido, teimamos em alongar o reencontro e isso nunca é bom. Por isso, estou te deixando, te deixando para sempre. Estou tirando de mim o seu peso, ele pertence a você. Me devolva o meu.
O trem está parando.. hora de descer. Adeus.!
Ah e aquele café, está marcado. Até daqui alguns anos, em alguma parada.